quarta-feira, 4 de maio de 2011

Não Sonho Mais - Chico Buarque

Só mesmo Chico Buarque para escrever algo assim no auge da ditadura. Até que a música está bem atual. 
O que!? Você não acha!? É porque ela hoje está perversamente silenciosa (a ditadura), encoberta por um quarteto chamado: "samba, futebol, cachaça e mulher"
 

Hoje eu sonhei contigo, tanta desdita, amor nem te digo
Tanto castigo que eu tava aflita de te contar
Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha, e se urina toda e quer sufocar
Meu amor vi chegando um trem de candango
Formando um bando mas que era um bando de orangotango pra te pegar
Vinha nego humilhado, vinha morto-vivo, vinha flagelado
De tudo que é lado vinha um bom motivo pra te esfolar
Quanto mais tu corria mais tu ficava, mais atolava
Mais te sujava, amor, tu fedia, empesteava o ar
Tu que foi tão valente chorou pra gente, pediu piedade
E, olha que maldade, me deu vontade de gargalhar
Ao pé da ribanceira acabou-se a liça e escarrei-te inteira
A tua carniça e tinha justiça nesse escarrar
Te rasgamo a carcaça, descendo a ripa, viramo as tripas
Comendo os ovos, ai, e aquele povo pôs-se a cantar
Foi um sonho medonho desses que às vezes a gente sonha
E baba na fronha e se urina toda e já não tem paz
Pois eu sonhei contigo e caí da cama
Ai, amor, não briga, ai, não me castiga
Ai, diz que me ama e eu não sonho mais

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia antes de fazer seu comentário
- Os comentários do blog são moderados e serão liberados após constatação de que estão de acordo com o assunto do post.
- Os comentários feitos por anônimos não serão respondidos.
- Palavras ofensivas serão removidas.
- Os comentários não refletem a opinião do autor.